Quando me tornei um homem
eu me tornei um homem há muito tempo.
isso não foi bom, devo dizer.
me tornei um homem quando ainda era menino
quando ainda queria brincar,
me tornei um homem porque não tive escolha
eles quem escolheram pra mim
disseram que tinha que ser assim
que ser “moleque” não me levaria a lugar algum
que esse mundo era dos homens e de mais ninguém
que se eu quisesse ser alguém
tinha que desistir de brincar, de estudar
que certos meninos só devem aprender a trabalhar, a parar de procrastinar.
procrastinar para eles era ler um livro,
era ir na casa de um amigo.
e tudo ficou pior quando descobriram que eu beijava meu amigo.
ah, depois disso não tinha pra onde correr era homem isso, homem aquilo.
um dia meu amigo me chamou pra brincar,
com brincar ele quis dizer transar.
depois disso não tinha pra onde voltar
infância, inocência, molecagem
tudo isso virou bobagem
aos 13 eu só pensava em sacanagem
aos 14 eu comecei a me drogar
aos 15 já planejava me casar
aos 16 eu tinha contas pra pagar
aos 17 uma família pra cuidar
aos 18 eu fugi.
pra bem longe, onde ninguém pudesse me encontrar
onde eu pudesse brincar, ler e procrastinar.
mas nada mudou, ser homem é uma doença sem cura;
uma maldição insegura,
na qual fui pego contra minha vontade.
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Henrique Satt Visualizar tudo →
21 anos de idade, apaixonado por literatura, fotografia e pela natureza.